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Entrevistado(a): José Prata Araújo

Atualizado: 16 de fev. de 2022

1 - Bibliografia do entrevistado(a):

Data de nascimento: 20 de fevereiro de 1956.

Profissão: Bancário.

Reside a 40 anos em Contagem.

Morava em BH, e se mudou para o Eldorado (Contagem), o qual vive a mais de 34 anos.


2- Dados sobre a vida escolar:

Se formou em economia


3- Dados sobre a vida profissional:

É consultor em direitos sociais,

Aplica seu conhecimento em economia para a área social

Escritor do livro de crônicas "A maravilhosa matemática do amor"


4 - Entrevista completa de José Prata Araújo:

"Meu nome é José Prata Araújo. Eu nasci em 20 de fevereiro de 1956. Sou formado em economia e fui bancário durante 21 anos. Dediquei os últimos tempos à consultoria em direitos sociais, então apliquei ali os meus conhecimentos de economia voltado para a área social. Eu me mudei para Contagem em 1987, por tanto há 34 anos e sempre morei no bairro Eldorado, aqui bem na mesma rua.

Como eu já falei sobre a vida escolar, formei em economia. Eu tive um problema com economia porque eu não gostava de matemática. E matemática, como sabemos, é um dos pilares da economia, como estatística também. Mas, surpreendentemente depois que eu me formei, passei a estudar as questões sociais. E para quantificar os fatos sociais, as aposentadorias, investimentos em saúde e educação, que é a área que eu dediquei. Daí eu tive que usar muito os dados de economia, matemática e estatística. Então em certo sentido eu me reencontrei com a matemática, porque por trás de número tem pessoas, vidas e situações sociais distintas. Para quantificar os fatos sociais é inevitável. Então eu me reencontrei e isso foi uma boa coisa na minha vida.

A minha mudança para Contagem não foi algo bem planejado. Nós viemos para Contagem com a minha família muito mais como fruto da expansão urbana de BH do que uma opção. Nós olhamos, na época, apartamento para comprar pelo antigo BNH. E a alternativa que nós encontramos de um apartamento mais barato foi aqui em Contagem. Então mudamos para cá. Não foi bem uma opção, foi mais uma contingência da nossa situação pessoal.

Mas Contagem, eu sempre gostei. Pensa, quando mudamos para cá a cidade estava muito desorganizada. Essa cidade tem uma tradição populista muito grande, de Ademir Lucas e de outros prefeitos. A cidade era muito desorganizada, mas eu sempre gostei daqui da cidade, pelo seu caráter mais interiorano, uma vida mais simples. Uma cidade nas suas diversas regiões com muito a cara de interior. Essa coisa eu gostei, uma certa contraposição a BH, que é uma cidade muito grande e muitas vezes, sem esse caráter provinciano

Agora, a cidade sempre foi muito problemática porque cresceu e se consolidou como a Cidade Industrial de Minas Gerais. Um pouco para preservar Belo Horizonte como cidade jardim, cidade da cultura e da arte e reservar a Contagem um papel, digamos assim, um papel secundário, importante na economia, mas, digamos assim, um papel economicista, que é a questão do desenvolvimento econômico, da indústria.

O próprio hino de Contagem é uma apologia à cidade desenvolvimentista. Ele não fala de pessoas, de vida e felicidade. Ele só fala de economia, de indústria e desenvolvimento. Então Contagem tinha, digamos assim, uma tradição muito economicista, da Cidade Industrial de Minas Gerais. E essa era um pouco da questão, do porquê eu não gostava daqui.

Aqui era cidade grande, hoje com quase 700 mil habitantes. Então é uma cidade importante. e é bom ressaltar Contagem, e se você pegar o chamado PIB per capta, que é o total da produção dividido pelo o número de moradores, o nosso PIB per capta é 20% acima do de BH. Então é uma cidade, em termos da riqueza, enquanto proporção do número de pessoas, é uma cidade até mais rica que BH.

Mas era muito desorganizada. Contagem melhorou bastante nos últimos tempos, mas sempre foi uma cidade muito pujante, uma cidade com uma economia muito diversificada. Não depende de uma única indústria ou empresa. Uma cidade com muitas indústrias, com um comércio atacadista forte como o CEASA. É uma cidade que tem o setor de comércio muito pujante. É uma cidade, digamos assim, com a economia bastante diversificada e isso que dá a nossa Contagem a capacidade de reação nos momentos de crise económica.

Nos anos 1980, eu inicialmente utilizava os serviços (médicos, bancos, comércio) quase todos em BH. Progressivamente hoje nós transferimos tudo para cá. Médico hoje é aqui, banco a gente utiliza tudo daqui. As compras são feitas quase sempre no comércio local, nos shoppings da cidade. No passado, grande parte dos serviços, em termos de médico, banco, escola e comércio, grande parte era feita em BH. Mas hoje não, a gente já tem muito mais condições de utilizar os serviços locais.

Falando agora sobre a Contagem de hoje, é bom destacar que em 2004, o PT, com a prefeita Marília Campos, que é a minha mulher ( eu e Marília somos casados há 37 anos) Nós chegamos enfim à cidade. A esquerda chegou ao governo da cidade. A cidade já tinha uma certa tradição política importante, uma história de resistência. Por exemplo, aqui foi a primeira greve operária do Brasil contra a ditadura militar, em 1968. A primeira resistência popular de massa contra a ditadura. Então a cidade já está escrita assim na história nacional brasileira, como a cidade resistência de movimentos populares. Em Contagem, portanto, em 2004 nós emergimos na cidade. A Marília também, como eu, foi sindicalista no Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte. Foi presidente do sindicato.

A emergência da esquerda em Contagem, então se deu porque também teve a tradição do passado. Não podemos dizer que só a Marília começou a luta da cidade. Aqui nós tivemos o seu Joaquim (de Oliveira), o seu Milton (de Freitas). Nós temos o Inácio Hernandes, o Durval (Ângelo), Nilmário Miranda, Tilden Santiago e Paulo César Funghi. Essa cidade já tinha uma tradição política, uma cidade que já tinha líderes que se projetaram no estado e no país.

Com a chegada da Marília no governo ela começou uma transformação importante na cidade. eu até escrevi quatro revistas sobre a cidade depois do governo da Marília onde eu disse o seguinte: “O que a Marília fez foi humanizar a cidade desenvolvimentista". Então eu passei a gostar muito mais da cidade, porque a Marília conseguiu uma façanha em termos de grandes centros urbanos que é a ocupação massiva dos espaços públicos em primeiro lugar.

Aqui na nossa cidade essa coisa foi impressionante Lembro de uma das principais festas populares que Marília puxou, as luzes de Natal em 2012, ano do último governo dela. Nas praças da cidade que estavam iluminadas, nós fizemos pesquisas que mostraram mais de quatrocentas mil pessoas visitaram as praças da nossa cidade! É uma coisa impressionante. Eu diria mesmo que é um fato praticamente inédito no Brasil. Uma grande cidade com tal grau ocupação urbana dos espaços públicos como nós vimos aqui. É uma coisa de fato impressionante, que me impressiona muito até hoje. Nós sabemos que a vida na cidade é também um aglomerar de pessoas.

Mas agora infelizmente, com a pandemia, não está acontecendo. Mas o sentindo da cidade é a vida coletiva, é o apoio mútuo e o encontro. E eu passei a admirar ainda mais a cidade depois que houve esse processo de revitalização do espaço público e uma ocupação massiva coletiva de homens, mulheres, crianças e velhos das praças da nossa cidade.

Obviamente o mandato da Marília não foi só embelezamento urbano. Marília levou urbanização para a periferia da cidade, para as regiões mais pobres. Então a Marília fez um pouco um governo que agradou a classe média, com o embelezamento e reorganização do espaço urbano, mas também chegou na periferia com um projeto bastante amplo de urbanização que é saneamento básico, drenagem, pavimentação, serviços de saúde e educação. Marília criou as escolas infantis. Então eu digo que a partir desse pequeno relato que eu passei a gostar demais de viver aqui na nossa cidade de Contagem depois dessa experiência.

Agora nessa situação dramática que é a pandemia, a Marília retornou de novo à prefeitura e está dando à questão um enfrentamento muito importante, decisivo, com o jeito de liderança dela, nessa questão da pandemia.

Não tá fácil viver na pandemia porque além das mortes, quer dizer, é um massacre, mortes diárias. A gente vê as mídias sociais hoje viraram um verdadeiro obituário. Todos os dias somente notícias tristes. Mas agora, no meu caso como uma pessoa de classe média, não tenho o mesmo drama de enfrentar a pandemia que as pessoas mais pobres. Eu moro em uma casa, estou gravando esse vídeo agora no quintal da minha casa. É uma casa ampla, não tem nenhum luxo. Mas é uma casa que tem um quintal, tem flores, tem frutas, tem um cachorrinho agora. Então, é claro que viver na pandemia nessa situação é muito menos desgastante do que as pessoas mais pobres.

Eu pessoalmente sou favorável a enfrentar a pandemia com o isolamento social, mas com renda para a população. Não é porque eu tenho renda já como aposentado, a minha família tem renda, que eu vou dizer que fiquem isolados sem garantir renda para as pessoas. Então esse negócio de opor saúde, emprego e renda tá errado.

Ninguém precisa fazer escolha entre morrer pelo vírus ou morrer de fome. Essa escolha não pode estar colocada. Então não é possível as pessoas serem epidemiologistas, da grande área da saúde, pessoas inteligentes não falarem nada da renda para os mais pobres, do auxílio emergencial, do apoio às microempresas. Porque é preciso ter essa dimensão.

Eu acho que quem tem e mostrou a maior liderança popular brasileira foi o Lula. Com aquele discurso inesquecível, agora recentemente, depois de recuperar os direitos políticos, ele mostrou a empatia que ele tem com as pessoas, solidarizou com as pessoas que estão sendo vítimas da pandemia, com as pessoas que morreram, mas mostrou também uma grande empatia com as pessoas que estão morrendo de fome, com as pessoas que estão sendo sacrificadas por causa do desemprego, pela a falta de comida. Então eu acho que é isso.

E pra terminar a nossa esperança é a vacina de fato que está avançando. Então agora é apostar nas medidas de isolamento social, ampliar a vacinação, garantir renda para a população e aumentar leitos nos hospitais para tentar segurar o processo da pandemia. E quem sabe no ano que vem a gente não possa ter um grande avanço. E no melhor sentido aglomerativo, que possa, inclusive, se manifestar nas eleições de 2022, com a gente tendo um grande resultado e encerrando essa fase trágica do nosso país. Uma fase trágica sanitária e política."




Fonte imagem:
https://blogdojoseprata.com.br/jose-prata-araujo-a-reforma-da-previdencia-de-romeu-zema-parte-1/



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