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Entrevistado(a): Reni Horta Barcala Peixoto

1 - Bibliografia do entrevistado(a):

Ano de nascimento: 1948.

Profissão: Aposentada.

Nasceu em Belo Horizonte, porém sempre teve laços em Contagem por seus pais serem daqui.

O avô do(a) entrevistado(a) chegou a ser o rei do congado na Comunidade dos Arturos.

2- Dados sobre a vida escolar:

Possui curso superior em educação artística.


3- Dados sobre a vida profissional:

Começou a trabalhar em Contagem em 1971, como professora primária.

Escolas de Contagem em que trabalhou: Escola Municipal Joaquim Antônio da Rocha e Escola Municipal Rita Carmelinda da Rocha.


4 - Entrevista completa de Reni Horta Barcala Peixoto:

"Meu nome é Reni Horta Barcala Peixoto e tenho 73 anos. Antes de casar, era Reni de Matos Horta, eu nasci em 1948, em Belo Horizonte, porém sempre tive laços em Contagem por meus pais serem daqui.

Meu pai e minha mãe são filhos de famílias tradicionais de Contagem, meu pai é João Horta da Costa e minha mãe é Licínia Dinis Matos. A minha avó paterna tinha o sobrenome Camargos. E meu pai não assinava Camargos, mas todo mundo fala que ele é Camargos. E a minha mãe era Dinis Matos. A mãe dela era Dinis Moreira. Daqui são os meus familiares, os pais da minha mãe e os pais do meu pai. E a minha mãe e as filhas, nós somos seis mulheres e um homem, e aqui mãe e o meu pai.

Nos dias de folga a gente costumava ir muito para as fazendas, porque em Contagem ou era parente do meu pai ou era parente da minha mãe. Tanto nas cidades como nas fazendas, então a gente se distraía muito, a gente saia para comer goiaba no campo, para cachoeira e era uma delícia, porque tinha muito parente, muito primo. E então a gente tinha uma vida muito boa, andávamos muito a cavalo era muito gostoso, minha infância foi uma infância muito feliz e de muita liberdade.

A gente passeava, cavalgava nos campos, brincávamos muito na fazenda do meu tio Neca, lá tinha uma cachoeira onde a gente brincava de escorregar nas pedras que era uma delícia, então foi uma infância muito agradável, e meu pai era de Contagem e amava Contagem também, e a paixão dele era essas fazendas, e a gente estava sempre por lá.

Passei nas fazendas desde pequena, no colo de um primo numa fazenda, de um tio em outra. Numa das fazendas que tinha cachoeiras a gente ia muito. A maioria das fazendas que eu frequentava na infância hoje viraram bairros, como é a fazenda de João Viana Camargos, que está no meio de um bairro.

Ainda tem algumas mais longe e continuam como fazenda, mas eu vejo atualmente uma diferença muito grande, a gente chegava tinha toda liberdade, dormiam em colchões de palha que era uma delícia. Hoje não. É uma insegurança total, a gente tem medo de tudo, não tem mais janela aberta, não tem mais crianças brincando no campo, a gente tem uma vida bastante privada com relação a essa problemática da atual situação que é essa violência que a gente tem vivido.

E então nos passeios hoje ainda vou muito em fazenda, eu tenho um sítio que eu fico mais lá que em Belo Horizonte, então eu tenho uma vida bastante campestre, mas existe uma mudança onde por exemplo no meu sítio tem grande coisa que não acontecia, e câmera para que a gente tenha mais segurança, mesmo assim ainda é bom.

Agora Belo Horizonte cresceu muito, na minha infância eu lembro que levava marmita para minhas irmãs, eu ia de bonde, então é uma situação totalmente diferente, eu com oito anos eu levava marmitas para minhas irmãs, saia da escola passava em casa almoçava e já pegava as marmitas para levar para elas que trabalhavam no centro, então houve uma modificação muito grande e para pior e eu vejo isso, melhor em algumas coisas, que tem mais conforto, geladeira e televisão.

Antigamente a geladeira não existia, as carnes eram feitas em latas, a gente chamava de carne de lata, que eram conservadas na gordura. As verduras eram apanhadas na horta diretamente, então hoje já se compra tudo e já se tem um conforto bem maior.

Esqueci de contar que, na minha infância também, o meu pai tinha muita amizade com o pessoal do quilombo dos Arturos, que eram trabalhadores e eles tinham suas danças e suas crenças na Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. E então a gente ia para todas as festas. Antigamente tinha o rei do congado e o rei branco, o meu avô chegou a ser o rei do congado, lá nos Arturos.

Então era outra coisa, uma outra atividade que a gente tinha na infância, que mesmo fora das festas a gente ia lá, eles rezavam muito, meu pai era uma pessoa muito religiosa e minha mãe também. Então a gente às vezes ia para lá para as novenas de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário fora da época das festas.

Eu como professora de educação artística, falando dos Arturos, houve um concurso de desenho daquela parte das casinhas antigas na descida da igreja de São Gonçalo. Meu aluno ganhou menção honrosa e por esse motivo ele ganhou o livro dos Arturos e eu também recebi um como homenagem à época e pela premiação dele.

Minha profissão é Arte educadora, mas eu comecei como professora primária também em Contagem. Comecei a trabalhar em Contagem em 1971, na escola Municipal Joaquim Antônio da Rocha. Depois da reinauguração da Escola Municipal Rita Carmelinda da Rocha eu passei para lá, porque eu já tinha terminado o curso superior de arte educação.

Eu sempre morei e trabalhei no Ressaca. Hoje o bairro em que eu moro passou a se chamar São Salvador, mas antes era Ressaca. E a escola também que eu trabalhei a gente falava Ressaca hoje se fala São Joaquim.

Meu primeiro trabalho foi na escola Joaquim Antônio da Rocha, que na época funcionava em vários lugares, não existia uma escola, então a prefeitura alugava cômodos em casas e a gente trabalhava. A primeira vez que eu comecei a trabalhar eu tive muita dificuldade, porque não existia carteiras, a gente dava aula com as crianças sentadinhas no chão com uma tábua que era colocada em cima de tijolos. E o quadro era a porta da entrada da sala, por incrível que pareça. Mas foi muito bom, foi uma experiência muito boa, porque antes de trabalhar lá eu trabalhava na Escola Estadual Mário Matos, em Belo Horizonte, e ela era escola modelo, onde os alunos do instituto de educação assistiam às aulas da gente. Então era uma escola pra lá de completa. Quando eu fui trabalhar em Contagem, eu me deparei com essa situação que a princípio eu achei um pouco difícil, porque não tinha um mimeógrafo. Os exercícios eram todos copiados a mão.

Depois as coisas foram melhorando, a gente foi tendo mimeógrafo. Depois de muitos anos, foi construída a escola Joaquim Antônio da Rocha. Primeiro ela foi de madeira, depois ela foi construída com alvenaria.

E depois eu fui para a Escola Guignard, fiz um curso de Arte e Educação. E nesse ano foi inaugurado o Rita Carmelinda da Rocha, onde passei a trabalhar. E lá me aposentei. Foi uma escola que eu amei muito, muito boa, tive todos os requisitos próprios para uma professora trabalhar. Trabalhava de quinta a oitava série, foi uma época muito boa que eu gostei muito, aliás eu nasci pra ser professora. Eu falo que professora é cachaça. A gente gosta tanto que a gente custa a largar. Quando me aposentei senti muita falta e ainda sinto. Quando eu passo nos arredores da escola eu tenho muita saudade. Vejo muito os meus alunos até hoje por eu morar na região, então eu vejo meninos que foram meus alunos e hoje são senhores e avós inclusive e isso me dá muita alegria.

Contagem no início era o que eu já falei muitas fazendas, a minha avó tinha casa na fazenda e tinha essa casa na cidade, que eles falavam casa na rua. A minha tia era professora dentro de Contagem mesmo e o que a gente tinha lá era isso. Era muita igreja. A gente frequentava a igreja de São Gonçalo, onde o irmão da minha mãe, que é o meu padrinho de batismo – era, aliás porque faleceu – ele era o Padre Aderbal Diniz Matos. Celebrava as missas. E então sempre a gente participava das missas e das novenas na igreja de São Gonçalo, era uma coisa muito boa, as procissões eram muito lindas.

(Mostra fotos). Essa aqui era a casa da minha avó na cidade e aqui é a casa da minha avó na roça na fazenda. Essa aqui foi uma festa que ela fez para outros padres que estudaram com o meu tio, esse Padre Aderbal Diniz Matos. Então a família toda reunida era um almoço que ela ofereceu a eles.

A gente ia em um médico que antigamente chamava médico da família. Era o Dr. Antenor de Castro. Ele morava no Carlos Prates, e a minha irmã mais velha trabalhava na farmácia dele. Então a gente tinha acesso normal na casa dele como médico também.

Banco não se usava muito, não. Porque a gente não tinha dinheiro assim, então era o que recebia do pagamento e fazia os pagamentos do que estava se devendo e guardava o resto para despesa. Normal era assim. O comércio era em Contagem mesmo, tinha muitas lojinhas de tecidos e minha mãe costurava. Então o comércio era assim, o que se comprava era o necessário: louças, talheres, panelas, utensílios domésticos e roupas. É o que eu tô falando, a minha mãe costurava, então comprava os tecidos e a minha mãe fazia as nossas roupas .

Contagem mudou muito, o progresso trouxe por exemplo, onde era calçamento hoje é tudo asfaltado. Chegaram muitas pessoas de fora. Quando Newton Cardoso foi prefeito começou a migração de pessoas para Contagem, mas antes dessa migração, antes do prefeito Newton Cardoso, todos os prefeitos eram parentes ou da minha mãe, ou do meu pai.

Agora eu acho que mudou muito, mas existe um ar bastante interiorano na sede (centro antigo de Contagem). O resto não. O resto é uma cidade como outra qualquer com cinemas, shoppings e tudo mais. Agora na sede mesmo, eu ainda vejo um ar bastante interiorano.

Finalmente eu, como ex-funcionária que hoje sou, aposentada da prefeitura de Contagem, vi uma luz no fim do túnel que foi a chegada de Marília. Quando ela foi prefeita da outra vez foi excelente, olhou muito para o professorado de Contagem e principalmente para os aposentados. O que acontece é que esses prefeitos últimos, eles dão uma porcentagem para os que estão na ativa, enquanto a lei orgânica garante para nós, professores aposentados, o mesmo que os professores na ativa teriam que ganhar. E eles vão achatando os nossos salários, dão uma porcentagem para os da ativa e outra menor para nós que somos aposentados. E com isso têm nos prejudicado muito.

Mas vejo agora uma luz no fim do túnel que é a Marília, que parece que chegou com muita vontade, muita competência e seu Deus quiser em breve teremos a vacinação total da população.

Viver no tempo da pandemia tá bastante difícil, ainda mais com o problema da vacina que nunca chega. Tivemos uma irresponsabilidade total do governo que não comprou as vacinas na hora que era pra terem sido compradas e agora nós estamos aí, lutando com a doença que está só piorando a cada dia. E com vacinas pingando gotinhas. Então a gente tá esperando que isso melhore. Eu, principalmente pela minha idade, estou muito ansiosa para que chegue logo essa vacina e que a gente possa ter mais liberdade.

Mas atualmente eu tô vivendo mais no sítio, convivendo com quase ninguém para evitar. Pela idade e por meu marido que também tem vários problemas como diabetes, pressão alta. E eu também tenho pressão alta e pela idade, então a gente tá se resguardando ao máximo possível."


(Entrevista concedida à neta Sarah Barcala, aluna do CEFET Contagem- Turma Camb 2 - 2020)


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